UM TRIBUTO A MINHA SOGRA

1 Sam 20:3; “Mas, na verdade, como vive o Senhor, e como vive a tua alma, há apenas um passo entre mim e a morte.” 

Do jeito que a semana passada prosseguiu para a nossa família, essas palavras de Davi têm sido a nossa realidade. Havia uma sombra iminente, durante o tempo que nossa matriarca brasileira guerreou por sua vida contra o câncer, e o fenômeno que assaltava seus pulmões. Essa sombra escura trazia consigo as palavras, “há apenas um passo entre ela e a morte”, acabou por descer as cortinhas de uma vida bem vivida, como o fim de uma magnífica peça teatral. Infelizmente, para a família não haveria mais repetições, no entanto, Marlene Leonart acabou de entrar na melhor “produção” de todos os tempos, com Cristo o Senhor sendo o Diretor de sua vida aqui na terra e sua nova vida no céu. O palco está pronto e Ele tem um novo papel para sua filha encenar.

Marlene sempre teve uma propensão para desfrutar de algumas das coisas mais saborosas e chiques da vida. Ela gostava que as coisas tivessem um toque de delicadeza e talento. Quando eu conheci Marlene, eu era um menino de vinte anos que não falava nem um pingo de português, e ela nunca realmente falou inglês. Lembro-me do dia em que a ouvi dizer algumas palavras em inglês pela primeira vez na minha presença. Eu tive que pedir Luiza para confirmar se o que eu ouvi foi, de fato, “Let’s kick it up a notch”, que quer dizer algo como, “Vamos apimentar as coisas, levar a outro nível”. Você pode imaginar a minha surpresa ao ouvir essa frase vindo dos lábios de alguém que eu não sabia que falava inglês. Foi-me explicado que ela era uma grande fã de Emeril Lagasse. “BAM”. Agora fazia sentido. O que eu não percebi foi que eu estava prestes a entrar em uma nova época da minha vida, que iria incluir a “renovação” e “expansão” do meu paladar. Eu não tenho espaço suficiente nesta homenagem para nomear todos os pratos que ela amava fazer para mim, mas basta dizer que meu pai e eu nunca mais vamos receber outro bolo de esponja com frutas, ou que eu nunca mais vou ter seu bife de alcatra recheado com uma grande cenoura e salsicha; isso tornou-se agora uma realidade desalentadora. Ela conhecia as comidas que eu gostava e ela se desdobrava para prepará-los para mim. Ela também conhecia os pratos que eu a desencorajava de cozinhar para mim. A família sabe que três pratos são. (Eu digo isso com um sorriso irreverente).

Nos últimos anos, fomos abençoados o suficiente para viajarmos juntos como família. Um dos maiores desejos de Marlene era poder viajar para Portugal. Alguns anos atrás este desejo se tornou realidade quando passamos algum tempo como uma família em Lisboa, nos deliciando no pastel de nata, eu tenho que admitir com gula. Oh, como apreciamos essas iguarias. Lembro-me de levá-la para o nordeste da Inglaterra e vê-la se apaixonar por todas as ovelhas vagando livre nos montes ondulantes ingleses. Todos nós sempre dávamos uma risadinha toda vez que tínhamos que diminuir a velocidade do carro, ou parar completamente, para que ela pudesse ver os cordeiros pelos montes. No entanto, o maior momento de riso, tanto para Marlene como para nós, foi em Veneza. Se você já tentou entrar em uma dessas gôndolas que balançam para a ca e para a la, você vai entender que elas não são as mais fáceis de subir a bordo. Acrescente o fato de que Marlene nunca aprendeu a nadar, e assim foi criada uma situação que invocava muita risada nervosa. Mas como ela adorava estar na gôndola! Segurando em a sua bolsa (uma de muitas, mas isso é outra história), ela ficava emocionada ao ser levada por seu “chauffeur” pelas das ruas de Veneza onde ela apreciava este lugar único e sua história que se apresentava em cada esquina. Quando Marlene sorria e ria, você podia ver a garotinha de oito anos brilhando.

Marlene era também uma mulher de Deus e uma mulher do santuário. Ela tinha o maior respeito pelas santas ordenanças de Cristo. Igreja para ela era um lugar para louvar ao Senhor, receber Dele, e um lugar para buscar a cura. Ela vivia sua vida “na igreja” e estava sempre disposta a abrir sua casa para o ministério do Evangelho e, claro, cozinhar uma grande refeição para qualquer hóspede. Tal era sua reverência pelas coisas de Deus dentro da igreja, que ela decidiu abençoar a igreja I.C.I. com seus primeiros pratos da Santa Ceia. Isso era algo que ela sentia que o Senhor lhe pedira para fazer. Até hoje a igreja ainda serve a Ceia nesses pratos.

marlene-1Depois de Jesus, seu maior amor foi sua família. Amou suas filhas inabalavelmente, e o laço que criou com suas três princesas era forte. É a força desse laço que tornará difícil o processo de sua separação com suas filhas. Sim, elas estão perdendo sua mãe, mas elas estão perdendo uma mãe que sempre estava do lado delas para o que elas precisassem. Ela estava ao lado, e amando, serviu seu marido, que neste momento vai exigir nossas orações para navegar essas novas águas turbulentas. E ela também era uma irmã amorosa para sua irmã e irmão. O vazio que ela deixa é grande. Mas, devo atrever-me em dizer que nada trouxe a vida e alegria para seus olhos como seus netos? Que avó ela tem sido para todos os seus netos! Eles vão ter sempre memórias de festas na piscina, diversos doces, e uma infinidade de palavras amáveis e adoráveis faladas sobre eles. Ser avó foi uma de suas maiores alegrias e todos os netos vão sentir sua falta.

Esta semana, como temos andado este caminho juntos como uma família, fomos esmagados com as memórias do que uma vez foi e o que agora vai cessar. Nas minhas viagens ao longo dos últimos anos, sei que suas orações me sustentaram, ainda mais em alguns dos locais interessantes que visitei recentemente. Serei eternamente grato por essas orações. Em minhas viagens eu comecei a colecionar “pratos de parede de países” para ela, e ela os pendurava em sua cozinha. Saber que ela não vai ver pessoalmente os últimos pratos que eu tenho para ela, e saber o tempo de colecionarmos pratos juntos chegou ao fim, é uma daquelas “pequenas-grandes-coisas”. Pouco no sentido de que eles eram apenas pratos de parede, mas grande no sentido de que era “nossa coleção”.

Agora que o último grão de areia em sua ampulheta caiu e sua presença connosco não é mais, conforto é o que todos nós procuramos. Esta semana no OneHope nós tivemos nosso meio dia de oração, e uma linha em uma canção que cantamos falou tanto em meu espírito que eu tive que imediatamente mandar uma mensagem de texto para Luiza. A letra dizia, “Eu sou cercado pelos braços do pai; Estou cercado por canções de libertação “. Senti que Deus estava nos dizendo que esses eram e são os pensamentos de Marlene sobre seu estado atual. Deus é tão bom. Ele sabe como nos falar em momentos de necessidade.

Conhecer seu amor pelo Senhor suaviza essa tristeza temporária e eleva nossa alegria eterna.

Para sempre seu genro,

David

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